''- Lembre-se do Aleph. Lembre-se do que sentiu naquele momento. Palavras, explicações e perguntas não vão servir para nada, apenas para confundir mais o que é já é bastante complexo. Simplesmente me perdoe.
- Não sei porque preciso perdoar o homem que amo.
Hilal procura inspirações na parede dourada, nas colunas, nas pessoas que estão entrando aquela hora da manhã, nas chamas das velas acesas.
- A menina perdoa. Não porque virou santa, mas porque já não aguenta mais carregar este ódio. Odiar cansa.
Não, não era aquilo que eu esperava.
- Perdoe tudo e todos, mas me perdoe - peço. Inclua-me no seu perdão.
- Eu perdoo tudo e todos, inclusive você. Perdoo porque eu amo você e porque você não me ama. Perdoo porque você me rejeita e o meu poder se perde.
Ela fecha os olhos e levanta as mãos para o teto.
- Eu me liberto do ódio por meio do perdão e do amor. Entendo que o sofrimento, quando não pode ser evitado, está aqui para me fazer avançar em direção a glória.
Hilal fala baixo, mas a acústica da igreja é tão perfeita que tudo p que diz parece ecoar pelos quatro cantos. Ela está em transe mediúnico.
- As lágrimas que me fizeram verter, eu perdoo.
As dores e as decpções, eu perdoo.
As traições e mentiras, eu perdoo.
As calúnias e as intrigas, eu perdoo.
O ódio e a perseguição, eu perdoo.
Os golpes que me feriram, eu perdoo.
Os sonhos destruídos, eu perdoo.
As esperanças mortas, eu perdoo.
O desamor e o ciúme, eu perdoo.
A indiferença e má vontade, eu perdoo.
A injustiça em nome da justiça, eu perdoo.
A cólera e os maus-tratos, eu perdoo.
A negligência e o esquecimento, eu perdoo.
O mundo, com todo o seu mal, eu perdoo.
Ela abaixa os braços, abre os olhos e coloca as mãos no rosto. Eu me aproximo para abraçá-la, mas ela faz um sinal com as mãos.
- Não terminei ainda.
Torna a fechar os olhos e olhar para cima.
- Eu perdoo também a mim mesma. Que os infortúnios do passado não sejam mais um peso em meu coração. No lugar da mágoa e do ressentimento, coloco a compreensão e o entendimento. No lugar da revolta, coloco a música que sai do meu violino. No lugar da dor, coloco o esquecimento. No lugar da Vingança, coloco a vitória.
Serei naturalmente capaz de amar acima de todo desamor,
Do doar mesmo despossuída de tudo,
De trabalhar alegremente mesmo que em meio a todos os impedimentos,
De estender a mão ainda que em mais completa solidão e abandono,
De secar lágrimas mesmo que aos prantos,
De acreditar mesmo desacreditada.
Ela abre os olhos, coloca as mãos na minha cabeça e diz com toda a autoridade que vem do Alto:
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