quarta-feira, 4 de maio de 2011

Feridos por AMOR! (Paulo Coelho)

Todos os amantes, de qualquer sexo, ficam alertados que o amor, além de ser uma benção, é algo extremamente perigoso, imprevisivel, capaz de acarretar danos sérios.
Consequentemente, quem se propõe a amar, deve saber que está expondo seu corpo e sua alma a vários tipos de ferimentos, e não poderá culpar seu parceiro em nenhum momento, já que o risco é o mesmo para ambos.
Uma vez sendo atingido por uma flecha perdida do arco de um Cupido, deve em seguida solicitar ao arqueiro que atire a mesma flecha na direção contrária, de modo a não se submeter ao ferimento conhecido como: amor não correspondido.
Caso o Cupido recuse tal gesto, a Convenção ora sendo promulgada exige do ferido que imediatamente retire a  flecha do seu coração e a jogue no lixo.

Para conseguir tal feito, deve evitar telefonemas, mensagem por internet, remessa de flores que terminam sendo devolvidas, ou todo e qualquer meio de sedução, já que os mesmos podem dar resultado a curto prazo, mas sempre terminam dando errado com o passar do tempo.
A Convenção decreta que o ferido deve imediatamente procurar a companhia de outras pessoas, tentando controlar o pensamento obsessivo ''vale a pena lutar por esta pessoa.''
Caso o ferimento venha de terceiros, ou seja, o ser amado interessou-se por alguém que não estava no roteiro previamente estabelecido, fica expressamente proibido a vingança.
Neste caso, é permitido o uso de lágrimas até que os olhos sequem, alguns socos na parede ou no travesseiro, conversa com amigos onde pode-se insultar o antigo (a) companheiro (a), alegar sua completa falta de gosto, mas sem difamar sua honra.
A Convenção determina que deva procurar a companhia de outras pessoas, preferivelmente em lugares diferentes dos frequentados pela outra parte.
Em ferimentos leves, aqui classificados como pequenas traições, paixões fulminantes que não duram muito, desinteresse sexual passageiro, deve-se aplicar com generosidade e rapidez o medicamento chamado PERDÃO.
Uma vez este medicamento aplicado, não se deve voltar atrás uma só vez, e o tema precisa estar completamente esquecido, jamais sendo utilizado como argumento em uma briga ou em um momento de ódio.
Em todos os ferimentos definitivos, também chamados RUPTURAS, o único medicamento capaz de fazer efeito chama-se TEMPO.
Não adiante procurar consolo em cartomantes (que sempre dizem que o amor perdido irá voltar), livros românticos (cujo final é sempre feliz), novelas de TV ou coisas do gênero.
Deve-se sofrer com intensidade, evitando-se por completo drogas, calmantes, orações para santos.
Álcool só é tolerado em um máximo de dois copos de vinho por dia.
Os feridos por amor, ao contrário dos conflitos armados, não são vítimas e nem algozes. Escolheram algo que faz parte da vida, e assim, devem encarar a agonia ou o êxtase de sua escolha.
E os que jamais foram feridos por amor, não poderão nunca dizer: VIVI. Porque nunca viveram.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

A história do lápis (por Paulo Coelho)





O menino olhava a avó escrevendo uma carta. A certa altura, perguntou:

- Você está escrevendo uma história que aconteceu conosco? E por acaso, é uma história que aconteceu comigo?

A avó parou a carta, sorriu e comentou com o neto:

- Estou escrevendo sobre você, é verdade. Entretanto, mas importante do que as palavras é o lápis que estou usando. Gostaria que você fosse como ele quando crescesse.

O menino olhou para o lápis, intrigado, não viu nada de especial.

- Mas ele é igual a todos os lápis que vi em toda a minha vida.

- Tudo depende do modo que você olha as coisas. Há cinco qualidade nele, que se você mantê-las, será sempre uma pessoa em paz com o mundo.

- Primeira qualidade: você pode fazer grandes coisas, mas não deve esquecer nunca que existe uma Mão que guia seus passos. Essa Mão, nós chamamos de DEUS, e Ele deve sempre conduzí-lo em direção a Sua vontade.

- Segunda qualidade: de vez em quando eu preciso parar o que estou escrevendo e usar o apontador. Isso faz com que o lápis sofra um pouco, mas no final ele está mais afiado. Portanto, saiba suportar algumas dores, porque elas lhe farão ser uma pessoa melhor.

- Terceira qualidade: o lápis nos permite usar uma borracha para apagar aquilo que estava errado. Entenda que corrigir uma coisa que fizemos não é necessariamente algo mau, mas algo importante para nos manter no caminho da justiça.

- Quarta qualidade: o que realmente importa no lápis não é a madeira ou sua forma exterior, mas o grafite que está dentro. Portanto, sempre cuide daquilo que acontece dentro de você.

- Finalmente, a quinta qualidade do lápis: ele sempre deixa uma marca. Da mesma maneira, saiba que tudo o que você fizer na vida irá deixar traços, e procure ser consciente de cada ação.





quarta-feira, 13 de abril de 2011

Bullying


Bullying é um termo da língua inglesa (bully = ''valentão'') que se refere a todas as formas de atitudes agressivas, verbais ou físicas, intencionais e repetitivas, que ocorrem sem motivação evidente e são exercidas por um ou mais indivíduos, causando dor e angústia, com o objetivo de intimidar ou agredir outra pessoa sem ter possibilidade ou capacidade para se defender, sendo realizadas dentro de uma relação desigual de força e poder.

O bullying se divide em duas categorias:

a) bullying direto: que é a forma mais comum entre os agressores masculinos;

b) bullying indireto: que é a forma mais comum entre mulheres e crianças, tendo como característica o isolamento da vítima.

Em geral, a vítima teme o agressor em razão das ameaças, ou mesmo a concretização da violência, física e sexual, ou a perda dos meios de subsistência.

O bullying é um problema mundial, podendo ocorrer em praticamente qualquer contexto nos qual as pessoas interajam, tais como: faculdade, escola, família, podendo ocorrer também em local de trabalho e entre vizinhos. Há uma tendência de que as escolas não admitem a ocorrência de bullying entre seus alunos, desconhecem o problema ou se negam a enfrentá-lo. Esse tipo de agressão geralmente ocorre em áreas onde a presença e/ou supervisão de pessoas adultas é mínima ou inexistente. Estão inclusos no bullying os apelidos pejorativos criados para humilhar os colegas.

As pessoas que testemunham o bullying, na grande maioria, convivem com a violência e se silenciam em razão de temerem se tornar as próximas vítimas do agressor. No espaço escolar, quando não ocorre uma efetiva intervenção contra o bullying, o ambiente fica contaminado e os alunos, sem exceção, são afetados negativamente, experimentando sentimentos de medo e ansiedade.

As crianças ou adolescentes que sofrem bullying podem se tornar adultos com sentimentos negativos e baixa autoestima. Tendem a adquirir sérios problemas de relacionamento, podendo, inclusive, contrair comportamento agressivo. Em casos extremos, a vítima poderá tentar ou cometer suícidio.

Os atos de bullying ferem principios constitucionais - respeito à dignidade da pessoa humana.

INSTRUA: a menina que você chama de gorda, passa dias sem comer para perder peso. O menino que você chama de burro, quem sabe tenha problema de aprendizagem? A menina que você acabou de chamar de feia, passa horas se arrumando para que pessoas como você a aceite. O menino que você provoca e goza na escola, pode sofrer maus tratos em casa e você só está contribuindo para destruir ainda mais sua auto-estima. Vamos combater o bullying!

terça-feira, 5 de abril de 2011

Oração do perdão - O Aleph (Paulo Coelho)


''- Lembre-se do Aleph. Lembre-se do que sentiu naquele momento. Palavras, explicações e perguntas não vão servir para nada, apenas para confundir mais o que é já é bastante complexo. Simplesmente me perdoe.


- Não sei porque preciso perdoar o homem que amo.

Hilal procura inspirações na parede dourada, nas colunas, nas pessoas que estão entrando aquela hora da manhã, nas chamas das velas acesas.


- A menina perdoa. Não porque virou santa, mas porque já não aguenta mais carregar este ódio. Odiar cansa.


Não, não era aquilo que eu esperava.


- Perdoe tudo e todos, mas me perdoe - peço. Inclua-me no seu perdão.


- Eu perdoo tudo e todos, inclusive você. Perdoo porque eu amo você e porque você não me ama. Perdoo porque você me rejeita e o meu poder se perde.


Ela fecha os olhos e levanta as mãos para o teto.


- Eu me liberto do ódio por meio do perdão e do amor. Entendo que o sofrimento, quando não pode ser evitado, está aqui para me fazer avançar em direção a glória.


Hilal fala baixo, mas a acústica da igreja é tão perfeita que tudo p que diz parece ecoar pelos quatro cantos. Ela está em transe mediúnico.


- As lágrimas que me fizeram verter, eu perdoo.

As dores e as decpções, eu perdoo.

As traições e mentiras, eu perdoo.

As calúnias e as intrigas, eu perdoo.

O ódio e a perseguição, eu perdoo.

Os golpes que me feriram, eu perdoo.

Os sonhos destruídos, eu perdoo.

As esperanças mortas, eu perdoo.

O desamor e o ciúme, eu perdoo.

A indiferença e má vontade, eu perdoo.

A injustiça em nome da justiça, eu perdoo.

A cólera e os maus-tratos, eu perdoo.

A negligência e o esquecimento, eu perdoo.

O mundo, com todo o seu mal, eu perdoo.


Ela abaixa os braços, abre os olhos e coloca as mãos no rosto. Eu me aproximo para abraçá-la, mas ela faz um sinal com as mãos.


- Não terminei ainda.


Torna a fechar os olhos e olhar para cima.


- Eu perdoo também a mim mesma. Que os infortúnios do passado não sejam mais um peso em meu coração. No lugar da mágoa e do ressentimento, coloco a compreensão e o entendimento. No lugar da revolta, coloco a música que sai do meu violino. No lugar da dor, coloco o esquecimento. No lugar da Vingança, coloco a vitória.

Serei naturalmente capaz de amar acima de todo desamor,

Do doar mesmo despossuída de tudo,

De trabalhar alegremente mesmo que em meio a todos os impedimentos,

De estender a mão ainda que em mais completa solidão e abandono,

De secar lágrimas mesmo que aos prantos,

De acreditar mesmo desacreditada.


Ela abre os olhos, coloca as mãos na minha cabeça e diz com toda a autoridade que vem do Alto:


- Assim seja. Assim será.''

domingo, 27 de março de 2011


O ESTATUTO DO HOMEM

(Ato Institucional Permanente)

Thiago de Mello

Artigo I

Fica decretado que agora vale a verdade.

Agora vale a vida, e de mãos dados, marcharemos todos pela vida verdadeira.

Artigo II

Fica decretado que todos os dias da semana, inclusive as terças-feiras mais cinzentas, tem direito a converter-se em manhãs de domingo.

Artigo III

Fica decretado que, a partir desse instante, haverá girassóis em todas as janelas, que os girassóis terão direito a abrir-se dentro da sombra; e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro abertas para o verde onde cresce a esperança.

Artigo IV

Fica decretado que o homem não precisará nunca mais duvidar do homem.

Que o homem confiará no homem como a palmeira confia no vento, como o vento confia no ar, como o ar confia no campo azul do céu.

Parágrafo único: O homem confiará no homem como um menino confia em outro menino.

Artigo V

Fica decretado que os homens estão livres do jugo da mentira.

Nunca mais será preciso usar a couraça do silêncio nem a armadura de palavras. O homem se sentará à mesa com seu olhar limpo porque a verdade passará a ser servida antes da sobremesa.

Artigo VI

Fica estabelecida, durantes dez séculos, a pratica sonhada pelo profeta Isaías e o lobo e o cordeiro pastarão juntos e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.

Artigo VII

Por decreto irrevogável fica estabelecido o reinado permanente da justiça e claridade, e a alegria será uma bandeira generosa para sempre desfraldada na alma do povo.

Artigo VIII

Fica decretado que a maior dor sempre foi e será sempre não poder dar-se amor a quem se ama e saber que é a água que dá à planta o milagre da flor.

Artigo IX

Fica permitido que o pão de cada dia tenha no homem o sinal de seu suor. Mas que, sobretudo tenha sempre o quente sabor da ternura.

Artigo X

Fica permitido a qualquer pessoa, qualquer hora da vida, o uso do traje branco.

Artigo XI

Fica decretado, por definição, que o homem é um animal que ama e que por isso é belo, muito mais belo que a estrela da manhã.

Artigo XII

Decreta-se que nada será obrigado nem proibido, tudo será permitido, inclusive brincar com os rinocerontes e caminhar pelas tardes com uma imensa begônia na lapela.

Parágrafo único: Só uma coisa fica proibida: amar sem amor.

Artigo XIII

Fica decretado que o dinheiro não poderá nunca mais comprar o sol das manhãs vindouras.

Expulso do grande baú do medo, o dinheiro se transformará em uma espada fraternal para defender o direito de cantar e a festa do dia que chegou.

Artigo Final

Fica proibido o uso da palavra liberdade, a qual será suprimida dos dicionários e do pântano enganoso das bocas.

A partir deste instante a liberdade será algo vivo e transparente como um fogo ou um rio, e a sua morada será sempre o coração do homem.

Santiago do Chile, abril de 1964.